Cantico
Quisera ser assim: livre:E então te levaria, na palma da minha mão, nos rumos da estrela guia, a conhecer magias e paisagens dos campos do bem querer. E o meu riso seria claro e límpido. E não haveria limites nem horizontes que nos guardassem. E te mostraria a rota de todas as estrelas e conheceríamos o percurso de todos os mares. E se acaso encontrássemos o final do arco-íris, nao nos prenderia o ouro do pote - nossos olhos, sim, se renovariam em suas cores. E eu te cobriria de sonhos.
Queria ser assim: decidido.E eu te indicaria o caminho certo e nao deixaria, em ti, dúvidas sobre o nosso destino. E em cada encruzilhada minha voz soaria clara e definida: esta é a direção, por aqui encontraremos uma clareira onde a grama é macia, as águas claras, a sombra amiga - faremos ali nossa paz. E eu te revelaria para onde segue o vento do outono, o que acontece com o sol da meia-noite, os mistérios que cercam o amanhecer. Eu saberia o tempo exato dos gestos, o momento preciso das palavras. E eu te cobriria de certezas.
Queria ser assim: seguro.Teria, então, os meios para acalmar os temores e os receios que rondam tuas noites. Te ensinaria a olhar de frente e para dentro de ti e te faria descobrir o que há além do que nos cerca. E este conhecimento seria a armadura a nos proteger dos medos que nos assaltam quando as luzes todas parecem apagar-se e não se distingue nem um raio de madrugada. E os meus braços seriam o forte onde repousarias os teus cansaços. E a minha voz seria o som a te despertar para a vida. E eu te cobriria de mansidão.
Mas nao sou assim - sou apenas tímido e fraco como todos os outros.
E é por isso que me encontras limitado pela minha insegurança, indeciso a tatear frases que me transfiram para ti.
É certo que muitas vezes te faço alegre com a minha alegria e o meu beijo tem a mornura suficiente para te aquecer.
Mas não é tudo.
Há momentos - estes são os mais dolorosos - em que me procuras amargurada e eu me mostro também carente e amargo, sem condições de te dar a segurança e o apoio que necessitas. E o que faço a nao ser oferecer-te o meu ombro e chorar contigo?
Dizes ser o bastante.
Talvez para ti - nao para mim, pois acho insuportável o teu sofrimento e, se pudesse, haveria somente risos em teus olhos, cantos em tua boca.
Me aceitas como sou, mas eu queria ser diverso e muito mais. E esta importência me dói e a impossibilidade de ser o porto seguro onde descansarias de tuas longas travessias me desarma.
Por isso me vês assim - um riso breve, um gesto frouxo, frases banais e, ao mesmo tempo, um desejo muito grande, intenso, sofrido de ternura e afeto. De busca e entrega.
E eu me divido. Pois metade de mim anseia por voar, correr, gritar e a outra metade me conserva preso aos valores que me impuseram desde cedo. Valores, cujos pesos e medidas, nao entendo. Dos quais, entretanto, nao consigo me libertar.
Me agrides e me causa dor - mas sei que a tua agressão é fruto das pressões que também sofres e eu sou o estuário que encontras à mão - e me agrada o fato: sempre é uma maneira de te possuir.
Me querias forte, eu sei, e eu nao sou; me querias rochedo, couraça para tuas fraquezas e eu sou planície onde apenas pode descansá-las; me querias fortaleza e sou nada mais que abrigo onde consegues, às vezes, te aquecer quando necessário.
Sou o que sou: homem e limitado.
Me perdoa.
De: Sergio Napp, em Para Voar na Boca da Noite - Editora Tchê
www.sergionapp.com
28.8.09
15.5.09
24.4.09
O poeta pede a seu amor que lhe escreva
Garcia Lorca
Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.
Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de mordiscos e açucenas.
Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.
Garcia Lorca
Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.
Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de mordiscos e açucenas.
Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.
7.2.09
3.2.09
De vez em quando a gente se sente meio sozinho,
vivendo uma vida de faz de conta,
falando meias verdades
fazendo tipo de bacana,
suprimindo a vontade com falsos sorrisos
e mesmo assim tem seu carro próprio, seu apê e dois vasos de flor.
De vez em quando é como qualquer outro dia,
você acorda e se vê num espelho
limpa os olhos e amacia a barba
percebe que nao passa de um ser qualquer
um desses jogados à mercê do tempo e do destino
e leva a vida assim bem sossegado sem relógios pontuais.
De vez em quando o corpo enrola por dentro,
o sangue jorra em meio às entranhas,
qualquer suspiro é motivo pra dor
um beijo sincero não é mais que isso,
mas o abraço apertado vale mais que remédio
e você fica doido pro futuro chegar
vivendo uma vida de faz de conta,
falando meias verdades
fazendo tipo de bacana,
suprimindo a vontade com falsos sorrisos
e mesmo assim tem seu carro próprio, seu apê e dois vasos de flor.
De vez em quando é como qualquer outro dia,
você acorda e se vê num espelho
limpa os olhos e amacia a barba
percebe que nao passa de um ser qualquer
um desses jogados à mercê do tempo e do destino
e leva a vida assim bem sossegado sem relógios pontuais.
De vez em quando o corpo enrola por dentro,
o sangue jorra em meio às entranhas,
qualquer suspiro é motivo pra dor
um beijo sincero não é mais que isso,
mas o abraço apertado vale mais que remédio
e você fica doido pro futuro chegar
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